sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Antes de você abrir os olhos

Não tenho dúvidas que quando se abriram pela primeira vez, o mundo também abriu um sorriso tímido: daqueles que nunca se esquecem, Podem reescrever os poemas -  todos eles. Podem apagar as estrelas - todas elas. Podem esvaziar a lua cheia, interromper a eternidade e assoprar as quatro estações para outro planeta: onde essas duas luas negras que pairam no seu rosto possam brilhar sozinhas. Não queremos mais céu, nem nuvens. Não precisamos mais de chuva: eu me molho com a água que escorre das suas lágrimas, todas as noites. E o sal dissolvendo nossas mais doces lembranças é o mesmo que resolve se enfiar em algum canto alegre dos seus olhos. E ali pude sonhar acordado. E ali pude sorrir, e ao sorrir, não expus apenas trinta e dois dentes. Abri quase que um verão que não existe mais: trezentos sóis e um sorriso com o peso da incerteza. O sono foi profundo. O sonho também deve ter sido. Nunca saberemos. A única certeza é que naquela manhã ninguém mais disse bom-dia. E que seus grandes e quase negros brilharam. Como há muito não brilhavam. Os poemas, ficaram sem palavras. Só manchas. Onde estava escrito saudade, agora há ausência. E para te encontrar, era só seguir seu perfume ainda doce para te inalar, talvez espirrar de saudade e procurar teu vulto como se fosse um vício: e é. Talvez tomar um antialérgico e continuar a fugir a sua fuga, a presenciar sua ausência e redesenhar seus passos que invadem, não por mais, o bendito espaço predestinado ao seu vigia; Olho por você. Oro pelos seus olhos. Mesmo quando te vejo, distante, dobrar alguma esquina qualquer e sumir no horizonte turvo: o horizonte de quem sonha e não tem braços infinitos o suficiente para te alcançar. E mesmo se braços, eles parecem te tocar. E mesmo sem voz, eles parecem me contar histórias: daquelas que parecem não existir. Certa noite despertos, me contaram sobre uma menino que escrevia desesperadamente noite e dia, dia e noite, tentando suprir, domar a angústia até morrer com a mão torcida e a pena encostada na maciez da folha branca sem conseguir escrever as últimas palavras: talvez seu nome. E de tanto escrever, ficou doente. E  a cura era voltar a escrever. As palavras, quando escritas para alguém que não mora nos seus braços, que não vive nos seus sonhos, que aparece vez ou outra na sua realidade, são falsos remédios: placebos. Que curam, sim, mas exigem o sacrifício em troca. E a receita está escrita: não no papel, não na folha branca: mas na tela invisível que é o amor, e com tinta invisível que são os amantes. Naquela manhã, a vida precisou se descolorir para que os seus olhos grandes e quase negros pudessem brilhar sozinhos. O mundo precisou morrer para você nascer, confusa. [antes de você abrir os olhos-última parte, Antonio]

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