quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Antes de você abrir os olhos- parte II


Eu nunca acreditei na solidão dos seus olhos, que são dois. Eles não veem a responsabilidade que tem ao carregar você. E se um chora, o outro ali do lado abafa o choro, e mesmo sem saber falar, encontra palavras de conforto; e mesmo sem mãos, sem lenço: eles se entendem. Seus olhos não poderiam pertencer a nenhum outro rosto. Só você pode fechá-los quando o medo de encarar o amor se aproxima. Só você pode abri-los quando esse mesmo medo vai embora, dobra uma esquina qualquer, se some em algum lugar bem distante do seu campo de visão: você não pertence a ninguém. Eu pertenço ao seu mundo, não porque sou seu, mas porque seus olhos me entendem. Confesso: invejo-os: só eles podem te ver dormir sem te acordar, e observar seus sonhos sem sair de dentro do seu mundo: sem sumir de você. Infelizmente, nunca tive. Não precisei. Você sempre conviveu e se manteve tão bem aqui: na minha imaginação. Sonhada e protegida pelas minhas mãos que não te tocam: não porque não querem; porque não podem. Só eles conseguem te ver por inteira: como um mirante, no porto seguro do seu coração. Ou talvez um farol que ilumina o mar negro - ora negro, ora agitado - onde as ondas mais violentas escolhem as praias mais distantes, talvez suas mãos, para quebrar sem ninguém perceber. Tenho certeza que essas ondas são amores que se encolhem serem grandes o suficiente para suportar a dor da conquista. Os amores são sempre frágeis. Os amores serão sempre dóceis. E seus olhos, naquela manhã, moveram o mundo para você despertar, todas as outras manhãs, no meu.
[antes de você abrir os olhos- parte II, Antonio]

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